Por Priscila de Lima
As chuvas que atingiram Nova Friburgo entre os dias 11 e 12 de janeiro foram registradas como as de maior índice pluviométrico da história do município. A precipitação chegou a concentrar 182,8 milímetros em um período de apenas 24 horas. Até então, a maior medição de chuva na cidade havia sido relatada em 24 de janeiro de 1964, com o volume de 113 milímetros.
Mas, apesar da intensidade da chuva que caiu na região, Luiz Cavalcanti, chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (CAPRE/INMET), informou que este não foi o maior fenômeno natural registrado no Brasil. “O ocorrido em Nova Friburgo foi uma das maiores tragédias que já aconteceu no país, mas no ano de 1967 houve um fenômeno, talvez mais trágico do que o deste ano. Na ocasião, morreram 3.000 pessoas e causou tantos estragos como agora” – comentou.
Luiz Cavalcanti falou ainda sobre o fenômeno que ocorreu na região serrana do Rio de Janeiro no último dia 12: “Houve um conjunto de fatores que proporcionou chuvas tão intensas. Uma frente fria que atuava na região sudeste, no litoral, se associou à Convergência de Umidade, um fenômeno recorrente que traz muita umidade da região tropical, particularmente da região amazônica, para as regiões sul, sudeste e até nordeste. Na ocasião estava trazendo a umidade para a região sudeste; como a região serrana já vinha registrando temperaturas muito elevadas, esses dois sistemas se somaram à circulação criada pela topografia da região, o que intensificou e provocou chuvas fortes em um curto período de tempo”.
De acordo com o chefe do CAPRE/INMET, na manhã do dia 11, um Aviso Meteorológico Especial (o de número 12) foi emitido para a Defesa Civil nacional e para a Defesa Civil do estado do Rio de Janeiro, dando conta das condições previstas para aquela região. Cavalcanti explicou: “A previsão pode ser feita com um, dois, três dias ou algumas horas de antecedência, pois varia de fenômeno para fenômeno, mas não sabemos como é feito um alerta para um município, pois isso é atribuição da Defesa Civil e cada uma tem sua própria forma de fazer isso”.
Segundo a Defesa Civil do município, o aviso foi feito no dia 11 quando a chuva começou a atingir a cidade e os índices pluviométricos ultrapassaram 55 milímetros, considerado nível de alerta. Um sistema de emissão de avisos do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) enviou um comunicado à Defesa Civil de Nova Friburgo, no entanto, o órgão não teve como remover as cerca de 6.000 pessoas que moram em áreas de risco.
“Há o risco de acontecer outra chuva tão intensa como esta. Na meteorologia costumamos falar que quando um evento ocorre uma vez fica sujeito a ocorrer novamente. Por isso, é importante que medidas sejam tomadas para evitar que um fenômeno natural se transforme em uma tragédia” – ressaltou Luiz Cavalcanti. Neste sentido, ele pontuou: “Primeiramente, deve haver a ocupação ordenada e com regras claras das áreas urbanas; o mapeamento das áreas de riscos; infraestrutura urbana; educação para o povo; um sistema eficiente de alerta e de comunicação entre todos os órgãos governamentais da área de segurança e de defesa civil; o treinamento de recursos humanos na área de defesa civil; e, finalizando, um monitoramento climático a nível de município”.
Tragédias naturais são recorrentes na região sudeste
A região sudeste é uma área propícia para a ocorrência de temporais, principalmente devido a mistura de calor e umidade que ocorre na região. Com isso, as nuvens se desenvolvem ainda mais e o vento não consegue ultrapassar a barreira de montanhas, impedindo que o ar seja elevado, o que potencializa as nuvens. Por isso os temporais se tornam comuns principalmente no período do verão, onde o calor é maior.
No ano passado, o estado do Rio de Janeiro passou por outras duas tragédias naturais provocadas pelas chuvas. A primeira ocorreu em janeiro, no município de Angra dos Reis, onde as quedas de encostas totalizaram 53 mortos na cidade do sul fluminense. A outra, em abril, foi provocada pelo deslizamento de terra no Morro do Bumba, em Niterói. Na ocasião, outros municípios da região metropolitana do Rio tiveram ocorrências graves, o que totalizou 250 vítimas fatais.
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